segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Resenha de "Reino das Névoas" no Leitura Escrita, por Ana Carolina Silveira

A Ana Carolina Silveira escreveu em seu blog Leitura Escrita uma bela resenha de Reino das Névoas. Isso foi em novembro passado, mas só hoje entrei para atualizar este blog, que está parado há um bom tempo. Faz de conta que eu estava de férias (quem me dera). Então, reproduzo abaixo o texto de Ana:

A proposta desse livro é trazer “contos de fadas para adultos”. Não que, em sua origem, contos de fada tenham sido histórias infantis, como a própria autora esclarece no prefácio: eram histórias moralizantes, que davam conselhos e a punição de maus atos, principalmente para adultos ou jovens em formação para a vida. As versões que conhecemos hoje, de certa forma pasteurizadas, surgiram a partir dos trabalhos dos Irmãos Grimm e de Charles Perrault, que recolheram essas histórias e as recontaram de maneira mais leve. 
Mas o “para adultos” do título também pode ter uma outra interpretação. Não diz respeito apenas a cenas de sexo e violência mais cruas, mas ao que acho principal no fato de ser adulto: ter de fazer escolhas, nem todas fáceis, nem todas simples, e viver com o peso de suas consequências. Sabem aquela história batida dos grandes poderes e grandes responsabilidades? Mais ou menos isso. 
Então, com essas prerrogativas em mente, a autora traz uma coleção de contos de fadas modernizados – e deliciosos, li o livro em uma tarde, não conseguia largá-lo – e adultos. Toda aquela atmosfera mágica de contos de fada está presente e a narrativa é simplesmente deliciosa de se acompanhar. A autora conseguiu pegar o espírito dos contos que lhe servem de inspiração, alguns deles até mesmo recontados aqui, como A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve e mesmo A Bela e a Fera (evidentemente não a versão da Disney). Outro ponto forte são as ilustrações para cada conto, também obra da autora (que é ilustradora), afinal um livro de contos de fadas não poderia passar sem ilustrações, poderia?
Três temas são de certa forma comum entre os contos: o primeiro deles, como adiantado anteriormente, o peso de fazer escolhas e sofrer suas consequências (que não necessariamente serão boas); o segundo é a da posição de ser mulher, de ter poder sobre o próprio corpo e sobre a vida, e sobre o quanto este poder pode ser retirado à força por uma sociedade que preza um conceito deturpado de masculinidade; e o terceiro a ecologia, principalmente no trato respeitoso com as outras espécies animais (reais ou fantásticas). 
Talvez o conto que sintetize melhor todo o espírito do livro seja a noveleta que o nomeia, Reino das Névoas: uma espécie de recontagem da história da Branca de Neve (mas com elementos de histórias como Chapeuzinho Vermelho e A Bela e a Fera, ou mesmo de outras histórias como a lenda da Condessa Bathory), onde a mocinha tem de fazer a transição da inocência da infância para o pragmatismo adulto, mas isso não ocorrerá sem lágrimas, danos e violência (física e sexual). É sobre as dores de tomar as rédeas da própria vida, o que nunca é simples, fácil e indolor, mas cujo resultado acaba por compensar as dores – só que todo dano poderá ser resgatado ao se descobrir a verdadeira natureza do eu? 
Enfim, esse é um livro que só tem um defeito grave, gravíssimo, aliás: é muito curto!!!! As histórias acabam tão rápido quando uma tarde de verão envolta em brincadeiras e os contos são tão bem-trabalhados que não se quer parar de ler. Fica a sugestão para um volume 2.
Foi para mim uma das maiores surpresas do ano, recomendadíssimo a todos os leitores que querem reviver antigos contos, mas com novo olhar.
Obrigada, Ana, pelas belas palavras!

Nenhum comentário:

Postar um comentário